domingo, 18 de abril de 2010

Urbanização na América Latina

Urbanização na América Latina é "decepcionante", diz estudo da ONU

25/03 - 15:56 - Rodrigo de Almeida, iG Rio de Janeiro

Um relatório preliminar sobre o estado das cidades da América Latina e do Caribe, divulgado nesta quinta-feira durante o Fórum Urbano Mundial, no Rio, mostra duas tendências dissonantes na região. De um lado, uma urbanização crescente que tem permitido aumento na qualidade de vida, maior acesso a infraestrutura, serviços e emprego, melhoria na expectativa de vida, maior igualdade de gênero e avanço na democracia. Do outro lado, concentração econômica em poucas e grandes cidades, alto nível de pobreza e desigualdade e cidades dotadas de valores agregados per capita em patamar menor do que outras regiões do pla

neta.

A preocupação é maior na América Latina do que nas cidades caribenhas, diz o documento. “A rápida urbanização aliada à tecnologia e aos meios de transporte deu às cidades latinoamericanas conformações e escalas nunca antes vistas na história da humanidade, e estas formas são replicadas em outras regiões da Ásia e da África, daí a importância de conhecer melhor os processos e consequências, explicou a coordenadora do estudo, Cecilia Martínez Leal, durante a apresentação nesta quinta-feira.

Latinoamericanos e caribenhos emergem como os mais urbanizados e mais desiguais do planeta. Quatro em cada cinco pessoas vivem em cidades na região, mas o estudo identifica grandes diferenças entre os países e também entre os espaços urbanos. “O progresso tem sido muito mais rápido nas grandes cidades do que nos centros menores e nas áreas rurais”, afirma o estudo.

As primeiras foram beneficiadas nos últimos anos por pesados investimentos em infraestrutura e serviços, muitos dos quais por meio de empréstimos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Daí resulta um grande predomínio econômico das cidades. São Paulo é citada como um exemplo dessa força. Conta com cerca de 10% da população e produz 33,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – uma relação de 3,2. Empata com Bogotá, na Colômbia, mas perde para a também colombiana Medellín (3,4), a equatoriana Guayaquil (3,5). A relação, no entanto, às vezes pode ser enganosa: Brasília chega a 4,7, mas produz apenas 6% do PIB para uma população que chega a 1,3% do total do País.

Outros países exibem cidades das quais são ainda mais dependentes. É o caso do Panamá, onde a capital Cidade do Panamá produz 82,8% do PIB; Chile, onde a capital Santiago gera 80,9% das riquezas do País.

Baixo valor agregado

As cidades da região apresentam ainda um outro dado preocupante para a ONU. Concentram atividades de baixo valor agregado e com baixo estoque de capital. A isso se soma uma concentração populacional com pouco capital humano (em outras palavras: muita gente pouco qualificada).

Resultado: se Nova York tem um PIB per capita de mais de US$ 60 mil e Tóquio, US$ 33 mil, cidades como Buenos Aires, Cidade do México e Santiago do Chile apresentam resultados bem mais modestos (US$ 18 mil, US$ 16 mil e US$ 15,9 mil, respectivamente).

“O decepcionante sobre a urbanização na região é que a pobreza continua sendo muito comum”, diz o relatório. Em outro trecho, os autores afirmam que “a desigualdade na América Latina é preocupante”. Segundo o documento, “o país com menor desigualdade na América tem maior desigualdade que qualquer país da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluindo qualquer país do Leste da Europa”.

Essa desigualdade, afirma o estudo, leva a região a “enormes dificuldades para o desenvolvimento humano e a democracia”, além de reduzir “o impacto que o crescimento econômico pode ter sobre a pobreza”. Na apresentação, Jorge Torres, um dos autores, afirmou que boa parte da redução da pobreza nos últimos anos na região tem sido favorecida por aspectos macroeconômicos, e não estruturais. “Nossa urbanização é excludente”, ressaltou.

Com tamanha exclusão, o documento revela preocupação com o futuro da democracia na região. Os autores reconhecem o recente avanço na participação da mulher na força de trabalho das cidades, mas critica a legislação trabalhista que, “na maioria dos países está muito regulada, não conta com mecanismos que garantem sua aplicação”.

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